quinta-feira, 9 de abril de 2009

Gabi na mídia

Travessuras do tempo
Alécio Cunha - Jornal Hoje em Dia - Belo Horizonte, 01/04/2009


O literal pode muito bem ser uma prova de poesia. Mesmo embalado pelo disfarce da prosa, certas palavras podem ganhar significados siderais na mente em formação de uma criança.

O livro “Gabi, perdi a hora!”, talentosa estréia no universo literário infantil do publicitário montesclarense João Basílio, 36 anos, brinca cm as múltiplas possibilidades de uma confusão entre o terreno do real e o mundo das palavras.

Ilustrada por André Neves e publicada pela editora belo-horizontina Lê, a obra será lançada hoje, às 20h30, na Galeria de Arte Pitágoras (rua Santa Madalena Sofia, 25 – Cidade Jardim).

A história começa quando o pai da pequena Gabriela acorda assustado e assombra a menina por estar atrasado e ter perdido a hora. Curiosa, Gabi não sossega enquanto não encontra a tal hora perdida, que pode muito bem ter resolvido brincar de esconde-esconde por aí.

O autor, que é professor universitário e fundador da banda The Jingles, que mescla com ironia sonoridades pop e minudências do universo publicitário, explica as razões de gostar tanto da alquimia dos vocábulos.

“Muito cedo descobri que o melhor brinquedo do mundo é a língua. Por isso, vivo das palavras, explorando o som, a forma e os sentidos que há em cada uma delas. Escrever é um convite para a viagem às palavras. Quando a gente abre as páginas da imaginação, nunca mais tem vontade de fechar”, assinala o autor, pai da pequena Alice.

“Gabi, perdi a hora” não é a primeira experiência literária de João Basílio. Há três anos, ele organizou, em parceria coma irmã, a jornalista Maria Teresa Leal, a coletânea de histórias “Meu Tempo e o Seu”, também publicada pela editora Lê.

“Escrever para crianças não é fácil. O leitor infantil é muito sincero. Se não se interessar, abandona logo o livro. É preciso escrever de forma simples sem ser simplório, buscando estimular a imaginação e respeitar a inteligência dos pequenos”, assegura o escritor, que tem outros livros na gaveta.

terça-feira, 7 de abril de 2009

A César o que não é de César


João Basílio, abril/2009

Na verdade, meu nome é Zé Ninguém. Trabalho numa repartição pública, vejo futebol na TV, saio com minha esposa, jogo sinuca e... de vez em quando gosto de escrever. Pois é, eu gosto. Claro que não sou um escritor profissional, não ganho a vida com isso. Mas vira-e-mexe eu escrevo. É que eu gosto de pensar umas coisas sobre a vida, sobre o comportamento das pessoas, sobre o amor, sobre o futuro, sobre Deus... Então vou escrevendo, colocando as ideias no papel... E tem umas que gosto muito, sabe aquela coisa que você escreve e lê e pensa: legal, esse texto ficou mesmo bom? Pois é, tem umas coisas que escrevo que gosto tanto que fico querendo que outras pessoas leiam. Mas não sei se alguém vai querer ler um treco escrito por um Zé Ninguém. Então ficava a vontade de espalhar meu escrito de um lado e o medo de não ser lido do outro. Foi assim que tive a ideia de assinar meus textos com outros nomes. Sim, nomes de gente famosa, respeitada, considerada. Faço um powerpoint com musiquinha, mando por e-mail e assim meus pensamentos circulam, de caixa postal em caixa postal, e comentários mornos tipo “Que texto interessante” ou “É até legal, vindo de um Zé Ninguém” viram “Uau! Que genial! Só poderia vir do Fulano de Tal!”

Já tem uns quatro anos que faço assim. Já escrevi textos assinados por John Lennon, Mario Quintana, Luís Fernando Veríssimo, Paulo Coelho, Gabriel García Márquez... Quando acho que minhas ideias são femininas, assino Lia Luft. Arnaldo Jabor não assino mais, ele deu uma entrevista reclamando disso, de ver o nome dele em opiniões das quais discorda, e agora tomei birra, não dou mais nenhuma autoria pra ele. Fresco.

Pra ser honesto, preciso dizer que não fui eu que inventou essa história de escrever e colocar o nome de outro autor. Não sou “the only one”, como disse Lennon (isso foi ele mesmo que disse). Sei de um texto antigo chamado “Instantes”, lindão, de um Borges argentino, que na verdade teria sido escrito por um cartunista americano+. De qualquer forma, eu descobri por experiência própria o poder do nome do autor. Foi quando trabalhava numa empresa e ninguém me ouvia nas reuniões semanais de trabalho. Levantava minha mão, dava opinião e era como se não dissesse nada (ninguém escuta Ninguém). Até o dia em que pus grife na minha frase: “Como disse Albert Einstein, tudo é relativo”. Bastou para ser respeitado. Daí para publicar “meus” textos na internet foi um pulo.

Dia desses um amigo que sabe dessa minha mania me perguntou se eu conheço bem os autores que uso. Estava insinuando que, pra assinar por eles, precisaria saber o estilo de cada um. Olha, respondi, conheço pouco. Já li umas coisas do Paulo Coelho, gostei. Do Veríssimo também, mas nunca tive oportunidade de ler o Gabriel. Da Lia Luft gosto mesmo é do nome, acho bonito, mas não conheço nada. Nem sei se tenho mesmo que conhecer. Meu amigo alegou que muita gente, quando bate o olho no texto, já sabe que não é daquele autor ali. Não me importo. Sempre tem quem acredite. O principal é que minhas ideias circulem. Mesmo sem meu nome. Mesmo sem que eu receba um elogio sequer. Dia desses recebi um e-mail com um texto meu, quer dizer, eu enviei pra outros, que foram mandando, mandando, e chegou em mim de novo! Isso é muito gostoso! Mesmo sem meu nome. Não me importo, sério.

No momento estou trabalhando numas reflexões sobre arrependimento, aproveitar a vida, essas coisas. Ainda não sei quem vai assinar, estou entre Padre Marcelo e Pedro Bial. E até esse texto aqui, meio confessional, bem pessoal, estou assinando com o nome de outro. Nem sei quem é esse tal de João Basílio, acho que nem é famoso, mas vi o nome dele no jornal, parece que acaba de lançar um livro, então anotei seu nome e hoje eu sou ele. É, esse negócio vicia.